Meu amigo, como as coisas são estranhas nesta vida. Já criei teorias miseráveis e nem miseráveis elas conseguiram ser. Esse texto deveria ser aquela cartola mágica capaz de trazer à tona novamente a paz – como costumam fazer com as pombas brancas -, mas creio que não será tão mágico assim. Queria transportar todas as indecifráveis sinapses e os pressentimentos ruins direto para esta folha. Mas há empecilhos: os pressentimentos nunca se concretizam e a preocupação com a gramática impede que as palavras floresçam livremente.
A guria que eu gosto está se engraçando com um folgado de tempos atrás. Eu fiquei meio irritado, sabe. Porque ela me contou como se fosse normal e eu não estava num dia muito bom. Se meu time tivesse ganhado, se eu tivesse sido promovido, vá lá. Mas nada disso e ela sabe que eu ainda a desejo. Não exageradamente, mas desejo. Por pouco não acabei aumentando umas coisas e me declarando, só pra não vê-la com outro. E convenhamos, meu caro: como amar uma pessoa sem conviver diariamente? A rotina, esse paradoxo, traz amor e rancor. Se eu tivesse bastante coisa para resolver, a notícia de que ela está conversando com algum idiota nem teria surtido tanto efeito. Mas cabeça vazia dá nisso: preocupações e textos pseudointimistas.
Reitero: ainda quero um texto que abarque tudo que penso e sinto. Dizem que os deuses, quando querem nos prejudicar, atendem aos nossos pedidos. E eu endosso. Cara, se Deus fizesse minha vontade, teria que desfazê-la para fazer uma outra vontade no dia seguinte, exatamente oposta à primeira.
Por consequência, estive pensando inclusive sobre a fama, porquanto um texto desse quilate tornar-me-ia famoso (a mesóclise está correta? Essa minha paranoia faz as ideias perderem-se). A fama deve ser interessante, não apenas por conta do dinheiro, mas por razões um pouco mais poéticas. Como disse a mãe do Aquiles, abro aspas: quando os netos dos seus netos morrerem, quem vai lembrar de você? Fecho aspas. Isso não é incrível? Acho muito digno querer fama para ter alguém a chorar por mim no dia de Finados. E bem na nossa essência, é exatamente isso que queremos: queremos deixar saudades.
Vou parar por aqui. Essas linhas não atingiram meu objetivo inicial. Continuo com aquele nó na garganta e certa taquicardia. Talvez tente um poema da próxima vez.
Renan Milaré
#Reflexao